Clãs Lira e Pereira: Conflitos com indígenas, dominando terras e contratos públicos ilegais de milhões.

Dossiê identificou 115 fazendas pertencentes aos clãs Lira e Pereira. (Cartografia: Eduardo Carlini/De Olho nos Ruralistas)
Conflitos com indígenas e camponeses: o lado oculto do Clã
Parte do patrimônio dos clãs Lira e Pereira tem origem na compra de terras reivindicadas por povos indígenas e camponeses. É o caso de seis fazendas administradas pelos herdeiros de Adelmo Pereira — primo da mãe de Arthur — em São Brás (AL), às margens do Rio São Francisco. Os imóveis estão sobrepostos a 2 mil hectares da TI Kariri-Xocó, homologada por Lula em abril deste ano.

Liderada pelo filho mais velho de Adelmo — o prefeito de Craíbas (AL), Teófilo Pereira — a família vende os bois criados dentro da terra indíigena para o frigorífico Dom Grill, fundado por um dos netos do patriarca. Esse gado é abatido em um matadouro público construído por outra parente, a ex-prefeita de Campo Alegre Pauline Pereira.

“Quando eles compraram, o Adelmo sabia, porque muita gente disse para que ele não comprasse essa terra”, diz o cacique Nadinho, um dos líderes do território. “O Adelmo disse: “Eu vou pegar essa briga com os índios”. Foi isso que nós soubemos”.

Em março de 2016, o Ibama embargou uma dessas fazendas pelo desmatamento de 259,60 hectares dentro da TI, em área próxima do Ouricuri, zona sagrada para a etnia. Em 2011, o MPF ajuizou uma ação civil pública contra Adelmo e outros três fazendeiros por destruírem, com “correntão”, 158,5 hectares de área indígena.

As fazendas dos Pereira são hoje o principal obstáculo à expansão dos Kariri-Xocó, que vivem confinados em uma área de 600 hectares no município de Porto Real do Colégio. “Nós queremos nossa área coberta é de mato”, conta o pajé Julio Queiróz Suíra. “O mato é o que garante a terra e a sobrevivência de quem vive dentro dela”.

Em Quipapá (PE), na outra ponta do império agropecuário do clã, é o próprio Arthur Lira quem promove as violências. Em agosto de 2023, os agricultores Cícero e Maria José Silva foram obrigados a sair do seu sítio, onde viviam há mais de 50 anos, por causa de uma reintegração de posse movida pelo presidente da Câmara.

A primeira licitação encontrada foi entre o frigorífico Dom Grill e a prefeitura de Campo Alegre. No dia 17 de junho de 2020, foi publicada no Diário Oficial dos Municípios de Alagoas uma ata de registro de preços para a aquisição de 8,55 toneladas de carne de boi moída e resfriada da Dom Grill, pelo valor de R$ 102.514,50.

A Dom Grill, uma marca gourmet com lojas em Arapiraca e Maceió, é a mesma que compra bois de terras indígenas e patrocina os leilões de gado e as vaquejadas da família. Seu dono é Nicolas Agostinho Pereira, filho de Noêmia Pereira, prima de Pauline Pereira, que era prefeita de Campo Alegre na ocasião. Antes de vencer a licitação, Nicolas contou com o apoio da reforma do abatedouro municipal do mesmo município.

Na CODEVASF, primo de Lira garante palanque contra Calheiros
A relação entre Codevasf e Arthur Lira vem de antes da entrada do primo Joãozinho na estatal. A companhia foi o veículo para o “tratoraço”, o braço agrário do orçamento secreto, que distribuiu R$ 3 bilhões em equipamentos superfaturados para os aliados do governo Bolsonaro.

Entre os beneficiários estava o município de Junqueiro, onde o pai de Joãozinho, conhecido pelo apelido “Prefeitão”, comandou por quatro mandatos. Seu sucessor foi o próprio filho, Fernando Pereira (PP), hoje deputado estadual. Joãozinho entrou na Codevasf um mês após estourar o escândalo.

Com a eleição de Lula, em 2022, Lira traçou uma nova estratégia para manter o fluxo de emendas parlamentares para sua base eleitoral. Enquanto os tratores e obras da Codevasf continuavam sendo entregues por Joãozinho, o presidente da Câmara fortaleceu as ações junto ao Consórcio Intermunicipal do Agreste Alagoano (Conagreste), comandado por dois aliados regionais — um deles, seu primo Teófilo Pereira.

Por trás dos bois e tratores está a disputa política pelo controle de Alagoas, cujo governo está hoje em mãos do grupo político do senador Renan Calheiros (MDB), principal rival de Lira no estado.

Enquanto se mantém no Incra, ele prepara terreno para disputar as eleições de 2024, substituindo outro primo. Em seu segundo mandato em Maragogi, Sérgio Lira (PP) tenta fazer de César seu sucessor na prefeitura de um dos principais destinos turísticos do litoral alagoano. O superintendente tem dado atenção especial ao município: em  sete anos, as ações do órgão cresceram 980% e mais de 500 títulos de terra foram distribuídos.

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