Polícia Federal adia operação devido ao Dia da Independência para evitar acusações de perseguição a militares

A Polícia Federal decidiu adiar as diligências da Operação Perfídia, que investiga fraudes na intervenção do Rio de Janeiro em 2018, para evitar coincidir com as comemorações do Dia da Independência. A operação mira o general Walter Braga Netto e oficiais da reserva do Exército.

No dia 12 de setembro, a PF cumpriu 16 mandados de busca e apreensão relacionados ao caso para avançar nas investigações sobre desvios em contratos de compra de coletes assinados pelo Gabinete de Intervenção Federal, comandado pelo ex-ministro de Jair Bolsonaro.

Inicialmente, as diligências estavam previstas para acontecer na mesma semana das festividades do 7 de Setembro. No entanto, ao perceberem a coincidência de datas, os investigadores decidiram adiar a operação, a fim de não se sobrepor a um evento importante para as Forças Armadas e para evitar acusações de perseguição aos militares.

A investigação que levou à quebra do sigilo telemático de Braga Netto encontrou pagamentos de uma empresa investigada para um coronel da reserva que foi subordinado ao general por mais de dois anos.

Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, já havia um mal-estar entre a cúpula das Forças Armadas e a PF. Generais de alta patente reclamavam que as operações da Polícia Federal contra militares coincidiam com eventos de celebração do Exército. Como exemplo, citavam o encontro de Lula com o Alto Comando da Força, que ocorreu no dia da operação que prendeu o tenente-coronel Mauro Cid.

No entanto, após longas conversas entre o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, o ministro do STF Alexandre de Moraes e o diretor da PF, Andrei Rodrigues, a relação entre as duas instituições parece ter melhorado.

Múcio e o comandante do Exército, general Tomás Paiva, compareceram a um evento com a presença da PF, o que demonstra uma tentativa de reaproximação entre as partes. Na ocasião, o ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou que a Polícia Federal e as Forças Armadas são “instituições coirmãs a serviço do Brasil”.

A Operação Perfídia investiga fraudes na compra de coletes balísticos durante a intervenção federal no Rio de Janeiro em 2018. Foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão em endereços dos suspeitos localizados no Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Distrito Federal.

A PF encontrou indícios de fraude na compra de 9.360 coletes balísticos, que teriam sido adquiridos com sobrepreço. A empresa contratada para fornecer os coletes, CTU Security LLC, sediada em Miami, tinha como proprietário o venezuelano Antonio Intriago, preso nos Estados Unidos por suspeita de participação no homicídio do presidente do Haiti Jovenel Moïse.

Em nota, Braga Netto afirmou que todos os contratos do Gabinete de Intervenção Federal seguiram os trâmites legais previstos na lei brasileira. Ele destacou que a suspensão do contrato ocorreu após a identificação de supostas irregularidades nos documentos fornecidos pela empresa e que nenhum recurso foi repassado e o valor total foi devolvido ao Tesouro Nacional.

Essa operação evidencia as tensões entre a PF e as Forças Armadas, mas também mostra uma tentativa de aproximação entre as instituições. Os desdobramentos dessa investigação continuarão sendo acompanhados de perto.

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