Impactos da COVID-19 na primeira infância da Maré revelam dificuldades nas áreas de saúde, alimentação, educação e segurança, aponta estudo da Redes da Maré.

A pandemia da covid-19 teve um impacto significativo nas crianças da primeira infância do complexo das 16 favelas da Maré, no Rio de Janeiro. Um diagnóstico divulgado pela ONG Redes da Maré revelou que as crianças de 0 a 6 anos de idade foram afetadas em várias áreas, incluindo saúde, alimentação, educação e segurança.

A pesquisa foi realizada durante a pandemia e envolveu a aplicação de questionários para mais de 2.000 famílias, bem como entrevistas com profissionais de redes de proteção e apoio à primeira infância. Os resultados mostraram que muitas famílias enfrentaram dificuldades relacionadas à alimentação. Em alguns casos, membros das famílias abriram mão de alimentos para garantir que as crianças tivessem o suficiente para comer.

A falta de acesso a alimentos adequados e nutritivos foi agravada pela violência e pela insegurança. O relatório revelou que 62% das operações policiais ocorreram perto de escolas e creches, o que afetou diretamente o dia a dia das crianças. Muitos cuidadores relataram que as crianças testemunharam algum tipo de violência, o que resultou em perda de aulas, queda no desempenho escolar e restrição de circulação.

Além disso, o acesso limitado à educação e aos serviços de desenvolvimento infantil também foi um problema. A Maré possui apenas seis creches municipais e 15 Espaços de Desenvolvimento Infantil (EDIs), que não conseguem atender à demanda das cerca de 15 mil crianças dessa faixa etária que vivem no local.

O relatório também destacou a importância de políticas públicas que considerem as formas de cuidado adotadas pelas comunidades. Na Maré, 94% dos cuidadores principais são mulheres, muitas delas autodeclaradas pretas ou pardas. A ausência de figuras paternas no cotidiano das crianças é um problema, assim como a falta de apoio financeiro adequado.

Para lidar com essas questões, o relatório faz uma série de recomendações às autoridades. Entre elas estão a expansão do acesso a serviços básicos de saúde, a ampliação da infraestrutura educacional e de desenvolvimento infantil e a adoção de políticas de segurança pública que evitem a violência nas comunidades.

A coordenadora da pesquisa ressaltou a importância de dar continuidade a esse trabalho e discutir essas questões para que as crianças da Maré tenham as mesmas oportunidades e direitos que as demais crianças da cidade. Ela enfatizou a necessidade de um olhar responsável e menos moralista por parte das políticas públicas, reconhecendo que existem diferentes formas de cuidar das crianças que devem ser consideradas e apoiadas pelo Estado.

Em suma, o diagnóstico revela a urgência de ações para enfrentar os desafios enfrentados pelas crianças da primeira infância na Maré. É fundamental garantir acesso a alimentos adequados, segurança, educação e saúde, além de apoiar as formas de cuidado adotadas pelas famílias e comunidades locais. A mudança requer um esforço conjunto de diferentes atores, incluindo o governo, ONGs e sociedade civil, para garantir um futuro melhor para essas crianças.

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