Manter um filho em uma escola particular no estado de São Paulo, por exemplo, custa em média R$ 1.709 por mês, de acordo com uma pesquisa do site Melhor Escola. Se considerarmos a capital paulista, esse valor sobe para R$ 1.912, o que é 45% superior ao salário mínimo. Com os custos de criação de filhos tão altos, é compreensível que muitas famílias optem por ter apenas um filho. Essa decisão tem impactado diversos setores da economia, que têm precisado se adaptar a esse novo cenário.
O mercado de consumo e serviços tem procurado atender às necessidades das famílias menores. Indústrias de alimentos têm lançado embalagens menores, confecções infantis têm estendido suas coleções até tamanhos maiores, agências de viagem têm oferecido resorts para compensar o menor número de hóspedes e até mesmo a indústria automobilística tem lançado SUVs compactos. Tudo isso porque os hábitos das famílias estão mudando à medida que o tamanho das mesmas diminui.
Segundo o sociólogo Gabriel Rossi, professor de comunicação e consumo da ESPM, as famílias de filho único têm se tornado mais solitárias, mas têm preenchido essa lacuna com a adoção de animais de estimação. Não é à toa que o mercado pet tem crescido a dois dígitos a cada ano. Em 2022, o setor apresentou um faturamento de R$ 60 bilhões, superando o mercado de linha branca, que faturou R$ 35 bilhões.
Uma pesquisa conduzida pela Nestlé no Brasil identificou que 77% das famílias têm pets, enquanto 55% têm crianças em casa. Outro levantamento da Kantar revelou que as vendas de ração para cães e gatos aumentaram, enquanto as vendas de fraldas descartáveis diminuíram. Essa mudança de comportamento tem feito com que empresas como a Nestlé revisitem seu portfólio e criem produtos que atendam às necessidades das famílias menores, como embalagens individuais de biscoitos e versões menores de leite condensado.
De acordo com o economista Roberto Kanter, se a economia do filho único tem diminuído a quantidade de consumo, ela também tem levado as famílias a buscarem mais qualidade. Se você tem apenas um filho, vai procurar dar o melhor para ele, comprar roupas de qualidade, matriculá-lo na melhor escola e proporcionar o melhor lazer. A empresa Kyly, por exemplo, percebeu essa mudança e reposicionou os tamanhos de suas coleções para atender crianças maiores.
O mercado pet e o mercado de consumo em geral estão se adaptando a essa nova realidade de famílias menores. As empresas estão desenvolvendo produtos e serviços que atendam às necessidades dessas famílias e proporcionem conforto e qualidade de vida para seus filhos únicos. A economia do filho único pode ser conjuntural, mas enquanto as famílias optarem por ter um único filho, as empresas terão que continuar se adaptando a essa nova demanda.