Jeferson Tenório reforça a importância da literatura como um direito humano inalienável.
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Tenório, que também é professor de literatura, estará presente no Festival Literário de Paracatu-MG (Fliparacatu) para uma palestra sobre literatura como direito humano. O escritor acredita que todos têm o direito de ter acesso aos livros e à imaginação, afirmando que a literatura é um direito humano fundamental. Segundo ele, a maior resistência encontrada nas periferias é o direito à invenção e ao futuro.
Para Tenório, a violência contra a população negra é uma realidade constante, que impede a possibilidade de imaginar um futuro melhor. Nesse contexto, a literatura surge como uma forma de resistência, possibilitando a fuga dessa realidade difícil e a criação de novas perspectivas. O autor relata que a literatura foi sua salvação, pois lhe permitiu enxergar a realidade de maneira diferente e ir além da mera sobrevivência.
A busca por novos leitores é algo que motiva Tenório, que vê o Fliparacatu como um espaço importante para dar visibilidade à população negra e quilombola. Para ele, a literatura pode contribuir para trazer à tona as causas dessas populações e promover a conscientização sobre suas lutas e demandas.
Nos últimos anos, Tenório tem se dedicado a ler mais obras de autores negros e negras, citando nomes como Eliane Alves Cruz, Conceição Evaristo, Carolina Maria de Jesus, Paulo Lins e Cidinha da Silva. Ele destaca também a emergência de novos talentos, como a autora Calila das Mercês.
No entanto, Tenório ressalta que a realidade do Brasil é marcada por violência e aniquilação, desde sua fundação a partir da violência e do sequestro de corpos negros e da aniquilação dos povos originários. Ele menciona o recente assassinato de Bernadete Pacífico, conhecida como Mãe Bernadete, em uma comunidade quilombola na Bahia, como um exemplo dessa tentativa contínua de aniquilação.
Para o autor, a recorrência da violência é resultado das políticas do Estado brasileiro, marcadas pela indiferença em relação às desigualdades sociais. Tenório acredita que a literatura não apenas denuncia como o jornalismo, mas também provoca reflexões mais profundas do que o simples relato de fatos. Ele argumenta que os textos literários são capazes de abordar as certezas e questioná-las de maneira mais intensa.
As histórias das pessoas que mais sofrem inspiram o trabalho de Tenório, que acredita que, para contar uma boa história, é necessário olhar ao redor e dar voz àqueles que estão próximos. Em sua obra antirracista, o escritor busca trazer à tona as experiências e realidades das vítimas, permitindo que suas histórias sejam contadas e ouvidas. A literatura, segundo Tenório, é uma ferramenta poderosa para garantir espaço e visibilidade para todos.