O novo diretor do Banco Central destaca que foi a educação pública que o levou até onde está atualmente.

Reencontro de Gerações na Uneb: Diretor de Fiscalização do Banco Central é Homenageado por Professor que o Formou

Um reencontro emocionante marcou o segundo dia da semana de integração dos alunos recém-ingressados na Universidade Estadual da Bahia (Uneb). O professor Valdir dos Santos Miranda, prestes a se aposentar, teve a oportunidade de agradecer ao seu ex-aluno ilustre, Ailton de Aquino Santos, recentemente empossado como diretor de Fiscalização do Banco Central (BC) e pioneiro negro no cargo. A emoção foi perceptível durante o encontro, realizado por videoconferência de São Paulo, onde Aquino adiou algumas reuniões para poder participar.

Valdir expressou seu orgulho por ver o sucesso de Aquino e o representante que ele se tornou para a universidade. “Parabéns pela posição. Você é um exemplo. Obrigado por representar bem nossa universidade. Estou emocionado desde o momento em que vi sua indicação [para o Banco Central]. Ano que vem, me aposento da universidade com dever cumprido”, disse o professor comovido.

Aquino, por sua vez, expressou sua gratidão a Valdir, mencionando que foi ele quem o ensinou contabilidade das instituições financeiras na época de sua graduação. Essa matéria acabou tendo grande influência em sua carreira, já que atualmente ele lida diariamente com operações de balanço em instituições financeiras e outros assuntos correlatos. “Aquilo que você me ensinava no dia a dia, que eu questionava muito bem. Hoje, quando olho as operações com balanço de instituições financeiras, só consigo me lembrar do senhor”, disse Aquino emocionado.

Durante o evento “Fiz Uneb: narrativas de lutas e conquista profissional”, que reuniu ex-alunos para compartilhar suas experiências na universidade, Aquino enfatizou a importância das instituições públicas na inclusão social e reparação histórica de grupos excluídos. Ele, que cresceu em Jequié, interior da Bahia, lembrou o sonho de realizar o ensino superior e como a Uneb tornou isso possível. “Sou do vestibular de 1994, como qualquer menino do interior da Bahia. Por isso, ressalto a importância de uma universidade estadual, pública e gratuita. Acho algo fundamental na vida de todos nós, e a Uneb me propiciou isso”, afirmou Aquino.

Ao mencionar sua trajetória na Uneb durante sua primeira reunião no Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, Aquino destacou a importância dos professores que tiveram um papel fundamental em sua formação. Ele lembrou, por exemplo, de uma professora que promovia debates sobre temas econômicos todas as sextas-feiras, incentivando os alunos a trazerem recortes de jornais. Essas experiências moldaram sua visão e contribuíram para seu sucesso profissional.

Aquino reconhece que a falta de diversidade em cargos de decisão no Brasil ainda é um grande desafio, mas se sente otimista em relação às mudanças que estão ocorrendo. Ele é o primeiro diretor negro do Banco Central e defende a ampliação de programas afirmativos para aumentar o acesso de negros ao ensino superior e a cargos públicos. Ele lembrou também que a Uneb teve a primeira reitora negra do país, Ivete Sacramento, entre 1998 e 2006, e foi a pioneira na adoção de cotas para estudantes negros em 2002.

O diretor ressaltou a importância da educação contínua e do estudo teórico para os estudantes atuais e aconselhou os estudantes negros a se dedicarem ao aprendizado de línguas estrangeiras para ocuparem cargos de liderança. Ele se orgulha de sua formação na Uneb e, inclusive, sua filha escolheu cursar direito na mesma universidade. “Falei na minha posse que sou o primeiro, mas com certeza não serei o único negro na diretoria colegiada do Banco Central”, afirmou Aquino, demonstrando confiança no futuro.

Para o diretor, seu sucesso é fruto de suas origens humildes e da oportunidade de estudar na Uneb. Ele reconhece que a falta de representatividade ainda é um desafio, mas está determinado a tornar a presença negra cada vez mais comum nos principais espaços de poder do país.

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