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São Paulo: escombros ainda presentes após tragédia. A cidade luta pela reconstrução em meio ao caos.

A longevidade nem sempre é uma virtude. A esperança, por exemplo, vai definhando, murchando, atrofiando, até que sobra apenas uma esperancinha. Quando eu tinha 15 anos, sonhava com justiça para todos. Nos últimos anos, meu único desejo era que não houvesse golpe. Agora, se o advogado Zanin não propor pena de morte para negros pegos com três gramas de maconha, já é um alívio. (PQP, né, Lula? Nada mais estúpido do que a indicação do Zanin para o STF, exceto se você decidisse explorar petróleo na foz do Amazonas).

Concordo com o mestre Celso Rocha de Barros, meu vizinho aqui na Folha, quando ele diz que uma das coisas mais importantes para a democracia brasileira seria o surgimento de um partido democrático de direita. O que havia nessa seara foi lavado pela Lava Jato, deixando espaço para os terraplanistas sem ideias na cabeça e com uma arma na mão.

Eu tenho uma esperancinha: sonho com o dia em que teremos conservadores que realmente lutem pela conservação. Afinal, os que se autodenominam conservadores hoje são os responsáveis por queimar a Amazônia, minar as instituições, defecar dentro de prédios públicos invadidos a golpes de marreta e contratar hackers para corromper urnas eletrônicas.

O conservador brasileiro viaja para Paris, Londres, Buenos Aires e volta encantado. “Que beleza!”, “Quanta história!”, “Quanta cultura!”. Mas, no Brasil, faz lobby para aprovar plano diretor que permite destruir a cidade e construir outra inteiramente nova por cima – no estilo neoclássico, chamado “Maison Venice”, “visite o decorado”.

Enquanto o brasileiro admira o East Village, Palermo e Portobello Road, sem perceber que se não demolíssemos tudo, teríamos bairros tão bonitos quanto, vemos a destruição dos quarteirões em torno da PUC, por exemplo. Nasci e cresci na Vila Olímpia, também um bairro de sobrados, pequenas casas geminadas, charmosas, com uma vida de bairro. Da mesma forma era Pompeia, Pinheiros, Vila Madalena, Moema, Itaim. Tudo foi ou está sendo posto abaixo.

Os defensores do empreendedorismo demolidor afirmam que São Paulo possui uma densidade populacional muito baixa, comparada a outras grandes cidades. Que é preciso verticalizar. Aceito o argumento, mas será que é necessário apagar a cidade e começar do zero?

Meus filhos estudavam em uma escola linda em Santa Cecília, um casarão feito sob medida para crianças. O imóvel, alugado, foi vendido e derrubado em uma semana. Passei muitas noites da minha juventude no bar Ó do Borogodó, aqui em São Paulo, o “túmulo do samba”, um dos possíveis novos quilombos de Zumbi. De novo: o dono do imóvel o vendeu e o quarteirão será destruído. O bar Balcão, onde a vida cultural paulistana se desenvolveu por trinta anos, também será transformado em entulho.

Estou citando apenas lugares que são importantes para mim, mas tenho certeza de que os leitores das diferentes regiões de São Paulo têm uma dúzia de outros exemplos. Lugares têm importância além do seu valor comercial. Não é à toa que existem imóveis tombados por sua importância histórica e cultural. O problema é que São Paulo não dá tempo para que esse valor se perpetue. Aqui, cortamos o bem pela raiz.

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