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Militares desconfiam da PF, Múcio trabalha para resolver impasse.

O avanço das investigações contra militares tem causado um desconforto cada vez maior entre integrantes das Forças Armadas e a Polícia Federal. Essas instituições já protagonizaram episódios de desconfiança mútua desde a transição de governo. Generais da cúpula do Exército suspeitam que as operações da PF que atingiram militares foram estrategicamente realizadas em datas de destaque do Exército, com o intuito de ofuscá-los. Os militares alegam que todas as datas importantes até agosto foram marcadas por operações da PF.

Por outro lado, fontes da Polícia Federal afirmam que não houve qualquer intenção além do cumprimento das decisões baseadas em investigações e que a desconfiança dos militares é apenas uma teoria da conspiração. No entanto, essa desconfiança reflete uma relação ruim entre as duas instituições, segundo avaliações de governistas. Diante disso, o ministro da Defesa, José Múcio, e os militares têm trabalhado para minimizar as tensões.

Um exemplo citado pelos militares é a coincidência entre a prisão do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, com o encontro do presidente Lula com o Alto Comando e o anúncio da nomeação do general Marcos Antonio Amaro para o Gabinete de Segurança Institucional. Além disso, os generais reclamam que, horas antes de Lula anunciar o investimento de R$ 53 bilhões do novo PAC para as Forças Armadas, ocorreu a operação contra o general da reserva Lourena Cid, suspeito de participação no caso das joias.

Como forma de melhorar a relação, José Múcio tem mantido frequentes conversas com o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues. O ministro fez questão de convidá-lo pessoalmente para a cerimônia do Dia do Soldado. Segundo Múcio, era importante mostrar à sociedade que todos estão do mesmo lado. Andrei Rodrigues afirmou que há um sentimento comum de ser rigoroso com quem cometeu crimes.

Para reduzir as tensões, o comandante do Exército, Tomás Paiva, convidou o ministro Alexandre de Moraes, do STF, para voltar a fazer musculação na academia do Comando Militar do Planalto. Moraes costumava frequentar o local antes de entrar em conflito com os militares devido à sua atuação no processo eleitoral. Agora, com o novo convite, ele está avaliando a possibilidade de retomar os exercícios em companhia dos militares.

Fontes militares afirmam que os esforços para melhorar a relação com a PF não têm como objetivo blindar militares investigados, mas sim garantir uma boa relação institucional. Já a Polícia Federal ressalta que as investigações não visam mirar militares especificamente, mas sim apurar os ilícitos como um todo e individualizar as condutas, independentemente de serem das Forças Armadas ou não.

O mal-estar entre a PF e os militares teve início ainda na transição de governo, quando houve uma disputa sobre quem coordenaria a segurança do presidente Lula. A PF e o então ministro da Justiça, Flávio Dino, defendiam que parte dessa atribuição saísse do GSI. Após seis meses de responsabilidade da PF sobre a segurança do presidente, em junho, o modelo passou por mudanças e a coordenação voltou para o GSI, com um modelo híbrido em vigor.

Além disso, houve divergências entre a PF e o Ministério da Defesa em relação ao GSI, com suspeitas de que membros do órgão tenham facilitado ou sido omissos nos ataques ao Palácio do Planalto. Também houve desacordo em relação à liderança do GSI, com membros da PF defendendo que fosse comandado por um civil e o ministro da Defesa apoiando a tradição de um militar à frente do órgão.

Atualmente, o clima de tensão entre a PF e os militares reflete uma relação deteriorada, que governistas avaliam como sendo ruim. O ministro da Defesa e os militares têm atuado para resolver os conflitos e garantir uma boa relação institucional entre as duas instituições.

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