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Artistas revitalizam casas em miniatura em meio à paisagem urbana de arranha-céus na China.

Desde que o avô de Shen Peng faleceu, sua avó sentia falta de sua antiga casa, que havia sido demolida pelo governo chinês como parte de um projeto de reurbanização há quase 15 anos. Determinado a ajudá-la a reviver suas memórias, Shen trabalhou em segredo durante seis meses depois de seu trabalho como cabeleireiro e presenteou sua avó com uma réplica artesanal em escala 1:20 da casa. Esse gesto não só trouxe alegria à avó de Shen, mas também o aproximou de uma comunidade crescente de artistas chineses que se dedicam a criar miniaturas de casas demolidas, reformadas ou modernizadas.

Ao contrário do Ocidente, onde as miniaturas são vistas como um hobby há muito tempo, a prática na China é relativamente nova e tem sido uma forma de lidar com a rápida modernização do país. Nas últimas décadas, a China passou de um dos países mais pobres do mundo para a segunda maior economia, resultando em um aumento significativo na urbanização e na demolição de casas antigas. Muitos chineses viram sua infraestrutura de infância desaparecer devido a campanhas de reurbanização, deixando-os com uma sensação de perda e nostalgia.

As miniaturas oferecem uma maneira de as pessoas se reconectarem com seu passado e encontrarem prazer espiritual quando todas as suas necessidades materiais são satisfeitas, explicou Shen. Embora ainda seja um nicho na China, os artistas que se dedicam a criar essas miniaturas ganharam seguidores nas redes sociais, acumulando centenas de milhares de curtidas em suas postagens. Shen, por exemplo, tem 400 mil seguidores no Douyin, o TikTok da China.

Cada artista tem seu próprio estilo e abordagem para criar miniaturas. Alguns se baseiam em fotografias fornecidas pelos clientes, enquanto outros têm que trabalhar apenas com memórias. O processo de criação é um exercício de intimidade e colaboração, onde o artista envia representações digitais da miniatura para o cliente e vai ajustando detalhes ao longo do processo. Para os clientes mais desesperados em recuperar a imagem de sua antiga casa, que não possuem fotos, o desafio é ainda maior.

Embora alguns espectadores mais jovens possam achar confusa a vontade de documentar essas casas antigas, ainda há aqueles que tiveram experiências e anseiam pelo estilo de vida mais antigo. Um jovem aprendiz de artista chamado Lu Qinghuan, por exemplo, escolheu abandonar a competição por empregos em escritórios e se dedicar em tempo integral à criação de miniaturas após se formar na faculdade. Ele sentiu um forte desejo de preservar a memória de sua cidade natal e a importância de seu avô, um professor de escola primária que o incentivou na educação.

Através dessas miniaturas, as pessoas conseguem reviver momentos do passado e compartilhar histórias com suas famílias. A réplica da antiga casa de infância de Li Shanshan, por exemplo, se tornou uma fonte de discussão e reunião familiar, levando-a a considerar até mesmo levar a miniatura em uma turnê para mostrar aos parentes que moram em outras partes da China.

No final das contas, as miniaturas têm sido uma maneira de preservar o passado e lidar com as mudanças rápidas e modernização da China. Apesar de ninguém querer voltar a viver nessas casas antigas, elas representam uma conexão com as memórias e a identidade de cada um. E enquanto a China continua se desenvolvendo, essas miniaturas continuarão a servir como uma forma de relembrar e valorizar o passado.

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