Um exemplo claro desse fenômeno é El Salvador, onde o presidente Bukele conquistou o apoio popular, mas também tem intimidado sistematicamente o Poder Legislativo e concentrado a tomada de decisões na Presidência.
Pesquisas de opinião pública têm demonstrado o ceticismo dos cidadãos em relação à capacidade da democracia de lidar com a recessão econômica e as pressões de saúde decorrentes da pandemia. O relatório recente do Latinobarômetro destaca que as críticas ao desempenho da democracia se intensificaram durante a pandemia, devido às falhas do sistema de saúde que agravaram a pobreza e a desigualdade.
No entanto, os problemas enfrentados pela democracia não se limitam à gestão financeira ou sanitária. A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) tem alertado que a violência e a desigualdade são as principais restrições à democracia na região, causadas pela pobreza e o subdesenvolvimento compartilhados por todos os países latino-americanos. Pesquisas mais detalhadas do Pew Research Center apontam que esses fatores não apenas contribuem para o descontentamento dos cidadãos com a democracia, mas também questionam princípios básicos como a equidade e a justiça.
No México, a maioria das análises tem se concentrado na desconfiança dos cidadãos em relação à democracia, sem entender profundamente os fatores socioculturais que perpetuam essa crise. O International Social Survey Programme, realizado em mais de 25 países, busca medir a desigualdade social e contribuir para a compreensão da opinião pública sobre o tema. No México, a consultoria Parametría compilou as informações, revelando que a educação, o trabalho duro e os contatos sociais são considerados os fatores mais relevantes para o progresso na vida. Além disso, a percepção de desigualdade varia de acordo com a classe social, dificultando um acordo sobre políticas de equidade social.
O México também se destaca por ter a menor percepção de diferença de renda entre ricos e pobres em comparação com outros países europeus e latino-americanos. A maioria dos entrevistados acredita que o acesso a melhor assistência médica por parte das pessoas com dinheiro é aceitável, mas o acesso a uma melhor educação não.
Essas opiniões contraditórias revelam os desafios que a democracia ainda enfrenta na região, especialmente em relação à desigualdade social. Enquanto essas diferenças persistirem, a percepção negativa dos cidadãos em relação ao desempenho da democracia também persistirá.
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